terça-feira, 22 de novembro de 2011

Sobre erros de grafia - Sírio Possenti

Quase todos acham que cometer erros de grafia é o fim do mundo, um sinal de ignorância. Mas não são erros mais graves do que outros (os contábeis, principalmente). Além disso, em geral, esses erros são excelentes pistas para aprender sobre a língua e sobre o sistema de escrita.

Primeiro, o sistema de escrita: a chamada escrita alfabética não é nem fonética (um símbolo para cada som) nem fonológica (um símbolo para cada fonema). Em uma escrita fonética, “tio” teria tantas grafia quantas fossem as pronúncias ([t] ou [tch] no começo, [o] ou [u] no final, fora os sons intermediários). Uma escrita fonológica implicaria que escrevêssemos /caza/ (ou /kaza/) em vez de “casa” e /sinema/ em vez de “cinema”.

A escrita fonética de “final” seria [final] ou [finau] (ou [finaw]), conforme a pronúncia, mas a fonêmica seria sempre /final/ (como prova o “l” em “finalidade”).

E como escreveríamos “peixe”? Foneticamente, [pexe] ou [peixe] (ou [peyxe] – estou sem um bom símbolo para o som que escrevemos com “x” ou “ch”). Fonemicamente? Hoje, /peixe/. No futuro, quem sabe seja /pexe/.

Crianças aprendendo a escrever, adultos com pouca escolaridade ou prática e cronistas anteriores às leis ortográficas fazem, todos, o mesmo tipo de escolhas. Digamos, para simplificar, que cometem os mesmos tipos de “erros”. Empregam grafias diversas e juntam palavras que os mais experientes (ou os mais recentes) separam.

Analistas apressados podem chegar a diagnósticos severos (por exemplo, de dislexia) em relação a esses escreventes. Mas, de fato, trata-se apenas de: a) instabilidade do sistema ortográfico (casa / caza; borracha / borraxa); b) de grafias baseadas na pronúncia, que é variável (menino / mininu), em hipercorreção (se “peixe”, por que não “badeija”; se “menino”, porque não “menistro”; se “final”, porque não “degral”?). Para um aprendiz, convenhamos, não é nenhum desastre.

Um aluno que comete estes erros, evidentemente comete erros. Afinal, a grafia correta está definida em lei! Mas seus erros não são devidos à falta atenção ou a algum tipo de déficit cognitivo. Podem, ao contrário, ser resultado de hipóteses inteligentes, embora erradas, e de generalizações que não deveriam fazer, mas que, na fase de aprendizagem em que estão, são comuns e demonstram independência intelectual e inventividade.

Em um texto famoso de Mattoso Câmara sobre o assunto, uma análise chama particular atenção. O lingüista encontrou diversas grafias para a palavra “silvou” (no ditado de “a serpente silvou”). Elas são devidas especialmente à instabilidade do “l” em sua relação com “u” em final de sílaba e de “u” em sua relação com “o” em posição átona: silvou, silvol, siuvou, siovol etc. A pronúncia é sempre a mesma, é importante observar.

O caso mais interessante é silivou. Diz Mattoso Câmara que o acréscimo de “i” depois de “l” é uma manobra do aluno (de 12 anos !!!) para manter o “l”. Sua explicação: como já que o “l” flutua em final de sílaba (é pronunciado [l] ou [u]), mas é fixo no começo, ao colocar uma vogal depois dele, o aluno garante que o “l” esteja em começo de silaba e, assim, não se vocalize (não se “confunda” com u).

Que diferença poder ler uma análise de quem conhece o assunto!!

Texto originalmente publicado na revista Carta Capital

domingo, 20 de novembro de 2011

Sou


SOU from Andreia Vigo on Vimeo.

Documentário, 26min, Cor/P&B, Brasil/2010.

O documentário SOU é um registro histórico-poético sobre a identidade afro-gaúcha, tendo como base a vida e a obra do poeta gaúcho Oliveira Silveira (1941-2009). Oliveira também é conhecido como o poeta da Consciência Negra, por ter sido um dos idealizadores da proposta de criação do 20 de novembro – Dia Nacional da Consciência Negra.

Direção: Andreia Vigo
Roteiro e Pesquisa: Lílian Solá Santiago e Andreia Vigo
Consultoria de Roteiro: Sátira Machado
Pesquisa Iconográfica: Fernanda Oliveira da Silva, Fernanda Calegaro e Sheila Zago
Produção Executiva: Andreia Vigo
Direção de Produção: Sheila Zago
Direção de Fotografia e Camera: Lívia Santos
Elétrica e Maquinaria: Felipe Avila Kuhn
Montagem e Finalização: Daniel Laimer
Logger: Henrique Maffei
Som Direto: Gabriela Bervian
Locução: Sirmar Antunes
Desenho de Som: André Sittoni
Trilha Sonora Pesquisada: Andreia Vigo, Lílian Solá Santiago e Casa dos Cantos
Percussão adicional: Josué de Oliveira
Produção: Bureau de Cinema e Artes Visuais

Filmado em Porto Alegre, Rosário do Sul e na Serra do Caverá. Inverno/2010.

O documentário SOU faz parte do projeto "RS Negro: educando para a diversidade", uma realização da Secretaria da Justiça e do Desenvolvimento Social do RS (SJDS), da Fundação de Educação e Cultura do Internacional (Feci), com financiamento da Companhia Estadual de Energia Elétrica do RS (CEEE), através da Lei da Solidariedade.

Este projeto consiste em um kit multimídia composto pela 2 ed. do livro “RS Negro: cartografias da produção do conhecimento”; Revista RS Negro; Poster book RS Negro; CD de aulas RS Negro; CD de áudios “Negro Grande” e o Vídeo-documentário “SOU”;

O kit do projeto será distribuido gratuitamente à escolas, bibliotecas e centros de pesquisa, numa ação alinhada à Lei 10.639, que inclui a "história e cultura afro-brasilera" no currículo oficial da rede nacional de ensino.

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

20 de Novembro - dia da Consciência Negra - dia de Zumbi dos Palmares!

Jongo do Irmão Café - Nei Lopes

 

Auê, meu irmão café!
Auê, meu irmão café!
Mesmo usados, moídos, pilados,
Vendidos, trocados, estamos de pé:
Olha nós aí, meu irmão café!

Meu passado é africano
Teu passado também é.
Nossa cor é tão escura
Quanto chão de massapé.
Amargando igual mistura
De cachaça com ferné
Desde o tempo que ainda havia
Cadeirinha e landolé
Fomos nós que demos duro
Pro país ficar de pé!

Auê, meu irmão café!
Auê, meu irmão café!
Mesmo usdos, moídos, pilados,
Vendidos, trocados, estamos de pé:
Olha nós aí, meu irmão café!

Você, quente, queima a língua
Queima o corpo e queima o pé
Adoçado, tem delícias
De cachaça com ferné
Requentado, cria caso,
Faz zoeira e faz banzé
E também é de mesinha
De gurufa e candomblé
É por essas semelhanças
Que eu te chamo "irmão café