terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Recursos textuais

A função endofórica pode ser classificada em anafórica ou catafórica (estudaremos cada função separadamente). Já a função exofórica é mais conhecida como dêitica (ou díctica). Mas qual é a diferença entre endofórica e exofórica? A resposta é bastante simples! Basta atentarmos aos prefixos formadores dos conceitos:

Endo – prefixo grego que significa “dentro”.
Exo – prefixo grego que significa “fora”.


Ora, como estamos tratando de recursos textuais, concluiremos que as palavras com função endofórica se relacionam com termos do próprio texto. Já as exofóricas trazem algo de fora para dentro do texto.

Entendidos os conceitos, passemos à análise de cada função:

Anafórica
Em primeiro lugar, gostaria de alertar para o fato de que “anáfora” pode ser também uma figura de linguagem, que consiste na repetição da mesma palavra no início de várias frases. Não precisam se preocupar, pois a função anafórica está relacionada a este conceito.

Uma palavra anafórica tem a função de retomar algo (não necessariamente uma palavra) já mencionado no texto, muitas vezes a fim de evitar repetições desnecessárias ou viciosas.

O exemplo mais comum de anáfora é um dos usos dos pronomes demonstrativos:

Exemplo: Farei duas provas em agosto, a do ICMS-RJ e a do ICMS-SP. Prefiro passar naquela a nesta, pois moro no Rio de Janeiro.ICMS-RJ = (n)aquela; ICMS-SP = (n)esta.

Outro exemplo para ilustrar essa função é o uso do pronome relativo “que” e suas variações, retomando um termo anterior.

Exemplo: Ainda não li o texto que ele escreveu.
texto = que (Ainda não li o texto / Ele escreveu o texto) Catafórica.

Já a palavra catafórica tem a função de antecipar algo que ainda será dito ou escrito. Nesse caso, não haverá repetição, pois a palavra irá apresentar a ideia. O exemplo mais comum (e mais cobrado pela FGV) é o pronome demonstrativo que faz referência a um aposto.

Exemplo: Nosso objetivo é este: passar em um bom concurso.
este = passar em um bom concurso

Da mesma forma que o relativo “que” faz referência a um termo anterior, o “cujo” se refere a um termo que ainda será explicitado na frase.

Exemplo: Conheço uma menina cujo pai é auditor da Receita.

cujo = pai

Dêitica
A função dêitica, às vezes chamada de díctica, é aquela que faz a referência exofórica, sendo responsável por localizar algo no tempo ou no espaço.

“Como assim Diego?!”
Ora, prestem atenção na seguinte frase: Aqui está muito frio.
Onde eu estou?

Bom leitor, a sua resposta deverá ser: “Não sei! Só sei que estava frio no lugar em que você escreveu o texto”. Exatamente, até porque, no momento que vocês estão lendo o texto, eu não estou mais “aqui”.

Acabamos de ver um exemplo de referência espacial, ou seja, uma palavra (no caso, o advérbio “aqui”) que traz uma ideia de fora para este texto.

O mesmo acontece com advérbios de tempo.
Por exemplo, se eu disser que ontem fui ao cinema (mentira, fiquei em casa estudando...), vocês precisarão saber em que data eu escrevi o texto, aí sim, poderão identificar o referente do advérbio de tempo.

É interessante fazer uma relação entre os dêiticos e a passagem do discurso direto para o indireto (outro assunto que a FGV gosta de cobrar), pois a alteração deles é normalmente necessária.

Exemplo: se eu escrever o seguinte na data de hoje: na semana que vem, comprarei alguns livros.

Vocês terão uma semana para ler a frase com seu sentido original. A partir da próxima semana, a frase correta será:
Diego escreveu que compraria alguns livros na semana seguinte.

O maior problema não é esse, mas sim a possibilidade de pronomes demonstrativos exercerem função dêitica. Vou explicar a diferença da seguinte forma:

Imaginem que estamos frente a frente, eu e você, caro(a) leitor(a). Mas não estamos sozinhos, há duas meninas a mais, uma ao meu lado, a outra ao seu lado.

Suponhamos que eu diga: Essa é a minha irmã.
Estou falando da menina ao meu ou ao seu lado?
Haveria diferença se eu dissesse “Esta é a minha irmã.” ?
Ou então “Aquela é a minha irmã.” ?

A resposta é sim! Há diferença em cada uma das frases, pois a referência espacial de cada pronome é diferente.

Essa é a minha irmã : minha irmã está ao seu lado.
Esta é a minha irmã: minha irmã está ao meu lado.

Aquela é a minha irmã: minha irmã não está ao meu lado, muito menos ao seu. Ela está longe de mim e longe de você.

Percebam que não é fácil explicar em texto algo que está fora dele. Espero ter criado um bom exemplo.


(Texto original: Professor José Bonifácio - DICAS DE PORTUGUÊS no facebook com adaptações)

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