terça-feira, 27 de julho de 2010

REDAÇÃO - ELEMENTOS DA NARRATIVA 01/02





ELEMENTOS DA NARRATIVA
NARRADOR
O autor inventa o narrador para contar a história como seu porta-voz. Portanto, o narrador faz parte do universo ficcional da obra.  
Foco narrativo
O narrador pode aparecer: 
a) em primeira pessoa, personagem principal
b) em primeira pessoa, mero observador dos fatos. É um recurso do universo da verossimilhança. É como se ele dissesse: “É verdade, pode acreditar, eu estava lá e vi”. Esse tipo pode até ser confundido com o narrador em terceira pessoa, porque, às vezes, a primeira pessoa que observa e conta os fatos demora a usar algum índice que mostre um“eu” narrador; 
c) em terceira pessoa, narrador onisciente: constantemente emite opiniões e, em algumas vezes, até se dirige ao leitor. 
d) em terceira pessoa, narrador-observador (objetivo): procura não se envolver com os fatos narrados.

ENREDO: toda narrativa pressupõe algo sendo contado. O enredo é o que sustenta a história.  

TEMPO: elemento decisivo.

Tempo cronológico ou histórico: exterior, obedece ao relógio e determina que a ação e o espaço também sejam exteriores.

Tempo psicológico ou metafísico: interior, passa-se no consciente de uma ou mais personagens. OBS: Os dois tipos de tempo narrativo podem aparecer no mesmo texto.

ESPAÇO / AMBIENTE - Caracterizado, quase sempre, pelas descrições, de acordo com a intenção do narrador.Assim como o tempo, o espaço pode referir-se a um lugar real, dentro do universo ficcional, sendo, então, exterior. Esse tipo costuma ter pouca importância nas narrativas psicológicas. É usual classificar o espaço em regional ou urbano, físico ou social.


PERSONAGENS
Protagonista/ antagonista/ personagens secundários
Personagem plana: seu comportamento é previsível (é o chato que só sabe ser chato, o gozador que está sempre fazendo graça, o trágico que só vê desgraça em tudo).Há personagens que não representam individualidades e sim tipos humanos, identificados pela profissão, pelo comportamento, pela classe social. Quando esses comportamentos forem realçados, teremos os personagens caricaturais.  
Personagem redonda ou esférica: além de ser imprevisível, é apresentada sob vários aspectos.

PARTES DA NARRATIVA
Apresentação: são mostrados ao leitor os primeiros dados como os personagens e suas características, o espaço em que se movimentam, as relações que matêm entre si e suas referências temporais. Expõe-se a situação inicial do universo ficcional.  
Complicação: rompe-se o equilíbrio do estado inicial, surgem conflitos e começam a ocorrer transformações, expressas em um ou mais episódios que, encadeados, conduzem a narrativa a um ponto máximo de tensão.  
Clímax: é o ponto máximo de tensão, resultante da convergência dos vários conflitos vividos pelas personagens.  
Desfecho ou desenlace: corresponde à situação final, ou seja, ao novo equilíbrio que se alcança depois do clímax.

OS DISCURSOS DA NARRATIVA
Discurso direto: as falas dos personagens são apresentadas diretamente ao leitor, sem a interferência do narrador. Verbos de elocução ou dicendi: introduzem o diálogo (dizer, responder, dentre outros). Discurso indireto: o narrador reconta o diálogo. As falas, quando existem, são apresentadas indiretamente pelo narrador.  
Discurso indireto livre: recurso relativamente recente, surgiu com romancistas inovadores do século XX. É um misto dos dois discursos anteriores. Há um narrador - primeira ou terceira pessoa - que está contando a história. Ele perpassa o que conta com parte da fala do personagem sem lhe dar diretamente a palavra, até não se saber. 


TIPOS DE DISCURSO NOS GÊNEROS NARRATIVOS
Em textos narrativos, o discurso citado ganha importância decisiva, pois registra as falas das personagens. Para isso, o narrador pode servir-se do discurso direto, do discurso indireto e, às vezes, de uma fusão dos dois, o discurso indireto livre ou semi-indireto.

DISCURSO DIRETO:
Leia a anedota abaixo:
Máquina de adivinhar
  O inventor procura um empresário para convencê-lo a industrializar um aparelho capaz de responder a qualquer pergunta:
- Pergunte o que quiser, sobre sua vida pessoal, negócios, conhecimentos gerais, qualquer coisa... Esta máquina vai responder!
- Onde está meu pai?
Em poucos segundos o aparelho responde:
- Caçando na África.
- Ridículo...Meu pai morreu há dez anos! – diz o industrial.
- Mas é impossível! Este aparelho nunca cometeu um erro! – garante o inventor, que em seguida faz outra pergunta:
- Onde está o marido da mãe dele, hein?
E o aparelho:
- Morreu há dez anos!  Pai dele acaba de errar o tiro num hipopótamo!

Quando o narrador reproduz textualmente as palavras da personagem, da forma como ela as diz, temos o discurso direto.
O discurso direto caracteriza-se pela presença de verbos de elocução, aqueles que servem para introduzir a fala da personagem. ( dizer, afirmar, responder, declarar, perguntar, entre outros).

  • Às vezes, a fala de personagens é indicada por aspas, com ou sem mudança de linha:
  EX: É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que se quer. Imagine-se entrando  numa loja para comprar um... um... como é mesmo o nome?
       “Posso ajuda-lo , cavalheiro?”
       “Pode. Eu quero um daqueles, daqueles...”
       “Pois não?”
       “Um... como é mesmo o nome?”
       “Sim?”
                                                      (Luís Fernando Veríssimo)

  • Quando os comentários do narrador são feitos no meio ou no final da fala da personagem, eles são geralmente isolados por travessões.
- Faço muito barulho, minha senhora?
-Absolutamente – protestou ela, levando de novo as mãos no peito. – Mal ouço o senhor à noite descalçando os sapatos e botando os chinelos...
                                    (Fernando Sabino)
Há situações em que várias falas se sucedem  sem a presença do narrador. Nesse caso, identificamos as personagens pelo contexto e também porque há mudanças de linha e novo travessão. Por exemplo:

       - Vô... Quem foi Augusto da Paz?
       - O quê?
       - Quem foi Augusto da Paz? Eu vejo todo mundo cantando assim na televisão: “Salve lindo pendão da esperança, salve símbolo Augusto da Paz”...
       - Ah, Glorinha, você tem cada uma... Essa pergunta eu não sei responder...Daria muito trabalho.
                                         (José Carlos Oliveira)

DISCURSO INDIRETO
No discurso indireto, o narrador transmite com suas próprias palavras a fala das personagens. Ele não é fiel àquilo que foi dito pela personagem porque pode inserir na informação passada comentários de cunho pessoal.

EXEMPLO I
  Baiano velho estava contente. Primeiro deu uma cotovelada no secretário e puxou conversa. Puxou à toa porque não veio nada. [...] Ficou quieto por uns tempo. De repente deu uma coisa nele. Perguntou para o rapaz:
    - O jornal não dá nada sobre a sucessão presidencial?
    O rapaz respondeu:
    - Não sei: nós estamos no escuro.
                                          (Antônio de Alcântara Machado)
EXEMPLO II
   Baiano velho estava contente. Primeiro deu uma cotovelada no secretário e puxou conversa. Puxou à toa porque não veio nada. [...] Ficou quieto por uns tempos. De repente deu uma coisa nele. Perguntou para o rapaz se o jornal não dava nada sobre a sucessão presidencial. O rapaz respondeu que não sabia, pois eles estavam no escuro.

Observe que na passagem do discurso direto para o indireto, os verbos que estão no presente do indicativo passaram para o imperfeito do indicativo. E , ainda, o pronome se alterou de nós para eles.


DISCURSO INDIRETO LIVRE
O discurso indireto livre ou semi-indireto é uma fusão dos discursos direto e indireto, porque apresenta a fala ou o pensamento  da personagem  discretamente inseridos  no discurso do narrador. Observe a presença do discurso indireto livre nas frases destacadas deste texto:

[...] Ele tinha a cara rubra, os olhos brilhantes, mas os lábios estavam brancos e secos, teve que passar a ponta da língua entre eles para separá-los , a saliva virou cola? Antes de dizer o que estava querendo dizer há mais de cinco anos e não dizia, adiando, adiando. Esperando uma oportunidade melhor  e faltava coragem, esmorecia, quem sabe na próxima semana, depois do aniversário do Afonsinho? Ou em dezembro, depois do aumento no emprego, teria então mais dinheiro para enfrentar duas casas – mas o que é isso, aumento nos vencimentos  e aumento na inflação? Espera, agora a Georgeana  pegou sarampo, deixa ela ficar boa então. E então?! Hoje, Hoje! Tinha que ser hoje, já! [...]
(Lygia Fagundes Telles)

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